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Arte que Transforma

por A. Silva.

Nesta semana convido a todos para conhecerem  a história de uma mulher e artista incrível, seu  nome, Malu Borges, nascida em  uma família  de  11 irmãos,  onde  a condição  financeira  dificultada o  acesso a cultura,  ela encontrou  caminhos  criativos  e  intuitivos  para  aprender a ler, desenhar e se expressar artisticamente. Na sua infância  encontrar um pedaço de papel para desenhar,  era algo raro  em  sua  casa, pois com  em  uma  família grande, a  vida tinha que ser muito funcional, tudo era muito prático e voltado para o trabalho. Desta época,  Malu  se lembra da seguinte cena:  “ Quando eu tinha 5 anos lembro-me do meu primeiro contato com o desenho. Acho que foi ali que tudo começou, me lembro claramente, nós tínhamos uma escassez de tempo para brincar, tínhamos que cuidar dos irmãos menores, não tínhamos acesso a cadernos, papel, lápis de escrever. Minhas irmãs mais velhas estavam na escola e elas tinham tudo muito escasso, material apenas para a escola. A gente se encantava em desenhar na terra.” E foi  na terra,no terreiro  de sua casa que por volta dos 5 anos  Malu  registrava com suas irmãs os primeiros desenhos, criavam  os primeiros   personagens e enredos imaginativos.

Da infância cercada de total  simplicidade e certa dificuldade,  em  1986 ,   a jovem  Malu Borges,  passa no   vestibular da USP em letras, e se muda para São Paulo,  passando  a viver em  meio a  uma cena cultural  intensa  com muito teatro, cinema, música. Em 1988 nasce sua filha, Camila, e conforme a menina ia crescendo, Malu começou a levá-la com  frequência para assistir peças  de teatro infantil. Neste período da vida, ela se encanta por esse universo, que para ela era muito mais expressivo que a educação, e passa a sentir profundamente que esse seria seu caminho profissional.

Após assistir ao espetáculo “A incrível história do Dr Rusk e os sapos venenosos“, ela se sente tomada pela beleza e simplicidade da produção e decide procurar um curso livre de teatro, iniciando assim sua trajetória profissional no  mundo  das artes cênicas. A partir deste curso, portas foram se abrindo e ela começou a conhecer pessoas do meio teatral, e foram aparecendo pessoas que lhe pediam assessoria e orientação. Sua carreira foi se consolidando. 

Quando conhece a atriz e musicista Débora Saraiva, do grupo de teatro “Ventoforte”,  passa a se aproximar  deste grupo,  inicialmente convidada por Ilo Krugli para fazer bonecos para , em seguida ,   integrar o elenco. Neste grupo, a atriz realizou várias apresentações, viajou em turnê pelos estados do Brasil, Bélgica, Itália e Holanda. Paralelo ao trabalho desenvolvido no “Ventoforte”, Malu participava da criação de um grupo de teatro com enfoque em teatro infantil, trupe Kuaraci-abá, e para sua alegria, sua filha, que a acompanhava sempre, começa a se desenvolver artisticamente ao lado da mãe, auxiliando nos processos de criação, interpretando, tocando, cantando.

A atriz, atuou também no “Engenho Teatral” grupo que se destacava  pelo enfoque político e crítico que trazia em suas produções.  Já no Núcleo Pavanelli, teatro de rua,Malu se deparou com novos desafios , tento que realizar treinamento circense,trabalho intenso  com o  corpo e desenvolver a dramaturgia para a rua.

Depois de realizar estudos em educação artística pela Faculdade Paulista de Artes matricula-se no curso de licenciatura e bacharelado e forma-se em artes cênicas, em 2013, pela Universidade Anhembi Morumbi. Durante o estudo acadêmico, ela se dedicou a escrita de várias peças, algumas para o estudo da dramaturgia, outras para teatro infantil. Tratava-se de produções bem elaboradas, com bonecos, criação de desenho  ao vivo e muita música.  Neste período Camila, filha de Malu participava ativamente de todos os processos, dirigindo, tocando e encenando. Juntas se apresentaram em diversos Sesc, Virada Paulista e teatros espalhados pelo interior de São Paulo. Malu Borges também se aventurou em grupos musicais como “Forró de Muié” e “ CTI” Cia Teatro de Investigação na “Casa de farinha do Gonzagão”, peça baile.

 Entre 2013 e  2104, a artista, enfrentou uma situação inesperada, o que iria modificar toda sua vida, incluindo sua carreira. Descobriu uma doença autoimune rara que modificou seu corpo, afetando significativamente sua voz. Neste momento entendeu que precisaria buscar um caminho para se restabelecer e assim, Malu Borges se muda para Extrema. Em 2015  chega a cidade e passa a vivenciar a biodinâmica na Fazenda Atalanta, participa de construções ecológicas, faz cursos de SAF, sistemas  agro florestais, plantio biodinâmico, permacultura.

Neste período, a artista se dedicou mais a trabalhos artesanais e criou bonecos para dois espetáculos do “Movimento Cia de Teatro”, através do Ponto de Cultura. Seus bonecos foram utilizados nos espetáculos ” As Centenárias ” e “Arca de Noé “.

Neste ano, 2022 , Malu participou do edital cultural da Lei Aldir Blanc, onde mostrou através de um vídeo a criação de um boneco. A artista atualmente se dedica ao estudo de teatro de desenhos na areia, técnica relativamente nova no Brasil. Atuou também na diretoria cultural da associação de moradores do bairro das Posses. Apresentando, antes da pandemia, projeto para elaboração de oficinas de artesanato, teatro e bonecos articulados.  Projetos que serão em breve  retomados.

Esta é parte da trajetória da vida de uma mulher que sempre trouxe dentro de si a sensibilidade artística, os olhos brilhantes que sempre procuravam pelas belezas ocultas e encontrou nas artes um caminho para transmutar a realidade.

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