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Margaridas marcham em Brasília movidas pela esperança de reconstrução do Brasil

Mobilização completa 23 anos e espera respostas do governo Lula para pauta com 13 reivindicações.

Uma das maiores mobilizações de mulheres do país volta à Brasília nesta terça (14) e quarta-feira (15). É a 7ª Marcha das Margaridas que completará 23 anos desde a primeira edição que ocupou a capital federal, para lutar contra a pobreza e a violência sexista.

Enquanto em 2000, ainda durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a pauta se baseava em três eixos, valorização da participação da mulher na reforma agrária e na agricultura familiar, a garantia e ampliação dos direitos trabalhistas e sociais e o combate à violência e impunidade no campo e a todas as formas de discriminação social e de gênero, em 2023, a lista de reivindicações é bem mais extensa.

A manifestação deste ano conta com 13 eixos políticos:

– Democracia participativa e soberania popular
– Poder e participação política das mulheres
– Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética
– Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios
– Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional
– Direito de acesso e uso da biodiversidade, defesa dos bens comuns e proteção da natureza  com justiça ambiental e climática
– Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda
– Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo
– Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária
– Universalização do acesso à internet e inclusão digital
– Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo
– Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade

O norte das margaridas é a reconstrução do Brasil após seis anos de resistência em que em que as políticas públicas e os direitos da população mais vulnerável foram atacados desde o governo do golpista Michel Temer (MDB) até a eleição do ex-presidente, hoje inelegível, Jair Bolsonaro (PL).

A marcha deste ano também defende a ideia de bem viver, um conceito que está associado à experiência de vida coletiva expressa por meio da solidariedade, do compartilhamento e do direito à existência para todas, inclusive das mulheres negras, trabalhadoras, do campo, da floresta e das águas, as mais afetadas pela devastação e mercantilização da natureza e da biodiversidade a partir da atuação devastadora de transnacionais da mineração e do agronegócio.

Associado a todos esses aspectos, a secretária de Mulheres da CUT, Juneia Batista, aponta a importância das manifestações para garantir ainda o protagonismo político feminino.

“Nossa expectativa é reunir 100 mil margaridas, 4 mil apenas da CUT, para reafirmar uma agenda em defesa das nossas vidas e da nossa soberania. Passamos quatro anos de resistência durante o governo do inominável e agora o objetivo é avançar em nossas pautas”, afirma.

Começo de tudo

Coordenada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a mobilização tem como ponto de partida a resposta ao assassinato da sindicalista Margarida Maria Alves. Trabalhadora rural, nordestina e uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de direção sindical no Brasil. Ela foi assassinada a tiros na porta de casa em 1983.

A secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag, Maria José Morais Costa, mais conhecida como Mazé, afirma que a expectativa é por respostas concretas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já confirmou presença no evento.

Desde a primeira edição, as mulheres obtiveram avanços para as trabalhadoras rurais como titulação conjunta de terras, programas de documentação, acesso ao crédito, à educação no campo e à aposentadoria aos 55 anos, dentre outras vitórias.

De acordo com Mazé a expectativa é retomar políticas que foram retiradas ou extintas e, apesar de afirmar que todas as reivindicações são fundamentais, ela elege o combate à violência contra as mulheres e o acesso à saúde, à terra e à educação como pontos essenciais.

“Espero que no dia 16, o governo do presidente Lula faça anúncios sobre nossas reivindicações que efetivamente tenham impacto sobre a vida das mulheres. Especialmente em relação à terra, porque sem ela não há como produzir, gerar renda e ter autonomia”, diz.

As margaridas

Muito antes do ato político, a marcha começa com histórias de solidariedade que marcam quem vai para Brasília e ajudam a formar olhares. Em Sergipe, a Secretaria da Mulher da CUT organizou um brechó itinerante, vendeu roupas, bijouterias, artesanato, entre outros itens, para angariar fundos, custear os ônibus e alimentação durante a viagem para o maior número possível de ‘Margaridas’ poder estar presente na capital federal.

Pessoas como Verônica Souza Santos Oliveira, titular de uma terra no assentamento Cajazeira, no povoado de Pururuca, em Sergipe. “Sei que para eu conseguir a minha terra, muitas mulheres lutaram, foram a Brasília, saíram de suas casas. E a gente sabe, tem agricultora que até para participar de uma reunião do sindicato não tem direito porque o marido não deixa. Ela precisa sair de fininho, dar um jeitinho para participar. Então, quando a gente faz este chamado é pra dizer que venham mesmo e participem. Lutar é preciso”, avalia.

Programação

Além da marcha, o encontro de mulheres na capital federal ainda apresentará uma extensa programação que começa já nesta quinta-feira, às 9 horas, no Plenário do Senado Federal, onde acontecerá a Sessão Solene em homenagem à manifestação. A secretária da CUT, Juneia Batista, representará as trabalhadoras das centrais sindicais.

O acampamento dos movimentos, como ocorreu nas edições anteriores, será no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, onde haverá diversas atividades culturais e de formação.

Na parte interna do Pavilhão, a organização promoveu a instalação da Casa de Margarida Alves, espaço que funcionará exclusivamente no dia 15, das 9 horas às 17 horas, e receberá lançamento de livros, espetáculos, filmes e documentários.

Ao longo do dia, a programação inclui debates, giras de conversas, oficinas, painéis e espaços fixos dedicados a ações como trocas de sementes.   

Na área externa, haverá a instalação da Mostra Nacional da Produção das Margaridas e também um ponto de coleta da campanha de arrecadação de alimentos não-perecíveis e de roupas em bom estado, principalmente de agasalhos, para doação a entidades que atendem pessoas carentes de Brasília.

A concentração para a marcha será na quarta-feira (16), às 6 horas, em frente ao Pavilhão do Parque da Cidade, de onde as mulheres sairão rumo ao Congresso Nacional, onde ocorrerá o ato de encerramento, previso para às 10h30, com a presença do presidente Lula.

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